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Elinzanetante reduz sintomas vasomotores em mulheres sob endocrinoterapia

2025-11-28

Elinzanetante reduz sintomas vasomotores em mulheres sob endocrinoterapia

Evidência robusta do ensaio OASIS-4 demonstra que o elinzanetante oferece alívio significativo dos fogachos e melhora a qualidade de vida em mulheres com cancro da mama HR+ sob endocrinoterapia.

O ensaio clínico randomizado de fase 3 OASIS-4 demonstrou que, em comparação com o placebo, o elinzanetante — um antagonista duplo dos recetores NK-1 e NK-3 — reduziu significativamente a frequência e a gravidade dos sintomas vasomotores em mulheres com cancro da mama positivo para recetor hormonal (HR+) sob tratamento endócrino. Os efeitos incluíram ainda melhorias no sono e na qualidade de vida, com um perfil de segurança semelhante ao do placebo.

O cancro da mama continua a ser o tumor mais frequente entre mulheres, representando cerca de 30% dos casos. Aproximadamente 70% são HR+, sendo recomendada uma endocrinoterapia prolongada (com tamoxifeno ou inibidores da aromatase, com ou sem supressão ovárica) durante pelo menos cinco anos e, em muitos casos, até uma década, devido ao impacto na redução do risco de morte ou de recidiva.

Contudo, os sintomas vasomotores — tipicamente fogachos intensos e persistentes acompanhados de insónia e fadiga — constituem um dos efeitos adversos mais debilitantes da endocrinoterapia. Frequentemente mais graves do que os da menopausa, sobretudo em mulheres jovens sob supressão ovárica, estes sintomas comprometem a qualidade de vida e estão diretamente associados à baixa adesão ao tratamento, colocando em risco os desfechos oncológicos.

Neste contexto, o estudo OASIS-4 foi concebido para avaliar a eficácia e a segurança do elinzanetante no controlo dos sintomas vasomotores nesta população, dado que o tratamento hormonal é contraindicado e as opções não hormonais disponíveis apresentam eficácia e tolerabilidade limitadas.

Resultados que vão além dos sintomas

O OASIS-4 foi conduzido em 90 centros de investigação na Europa, no Canadá, em Israel e no Cazaquistão. O estudo incluiu mulheres entre os 18 e os 70 anos a realizar endocrinoterapia para cancro da mama HR+ ou em prevenção devido a alto risco, todas com pelo menos 35 episódios semanais de sintomas vasomotores moderados a graves. As 474 participantes foram randomizadas na proporção 2:1 para receber elinzanetante 120 mg/dia ou placebo.

Após 12 semanas, o grupo do placebo passou a receber elinzanetante durante mais 40 semanas. O desfecho primário foi a variação da frequência média diária de fogachos moderados a graves na 4.ª e na 12.ª semanas. Os desfechos secundários incluíram qualidade de vida e qualidade do sono, avaliadas pelos questionários Menopause Quality of Life (MENQOL) e Patient-Reported Outcomes Measurement Information System (PROMIS SD SF 8b), respetivamente.

A frequência basal de fogachos foi de cerca de 11 episódios por dia em ambos os grupos. Na 4.ª semana, a redução média foi de −6,5 episódios/dia no grupo elinzanetante versus −3,0 no placebo, uma diferença significativa de −3,5 episódios (intervalo de confiança [IC] 95%: −4,4 a −2,6; p < 0,001). Na 12.ª semana, o efeito manteve-se: −7,8/dia com elinzanetante versus −4,2/dia com placebo, diferença de −3,4 (IC 95%: −4,2 a −2,5; p < 0,001).

Além disso, 74,3% das doentes tratadas atingiram resposta clínica (≥ 50% de redução), comparando com 35,8% no grupo placebo. Observou-se ainda uma melhoria relevante na qualidade do sono e na qualidade de vida relacionada com a menopausa, ambas estatisticamente significativas. O perfil de segurança foi favorável, com efeitos adversos geralmente ligeiros a moderados — os mais comuns foram sonolência, fadiga e diarreia. Eventos graves foram raros, sem óbitos relacionados. Mais de 90% das participantes optaram por continuar em tratamento durante mais dois anos, indicando satisfação e tolerabilidade adequadas.

Do alívio sintomático à adesão oncológica

Os resultados do OASIS-4 apoiam o uso de elinzanetante com o mais alto nível de evidência disponível até ao momento para o controlo de sintomas vasomotores em mulheres com cancro da mama HR+ sob tratamento endócrino. O tamanho do efeito observado na 4.ª e na 12.ª semanas — com redução adicional de cerca de 3 a 3,5 episódios moderados a graves por dia face ao placebo e taxas de resposta clínica acima dos 70% — é competitivo face às opções não hormonais tradicionais e consistente com achados prévios dos estudos OASIS-1 e OASIS-2, realizados com mulheres em menopausa natural. Estes resultados foram confirmados numa publicação do NEJM e em comunicados técnicos de sociedades médicas, com melhorias associadas no sono e na qualidade de vida, além de um perfil de segurança semelhante ao do placebo, aspeto crucial numa população oncológica em tratamento prolongado.

Comparativamente a tratamentos não hormonais já estabelecidos, as revisões recentes indicam que inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), gabapentina e oxibutinina proporcionam reduções moderadas dos fogachos, mas muitas vezes limitadas por efeitos adversos dependentes da dose, sonolência ou efeitos anticolinérgicos, o que pode comprometer a adesão. Ensaios randomizados com oxibutinina demonstraram eficácia versus placebo, incluindo em mulheres com cancro da mama, mas o perfil anticolinérgico exige cautela em uso continuado. Estão em curso estudos com posologia otimizada e formulações de libertação controlada para avaliar melhor a relação benefício-tolerabilidade.

Entre os fármacos mais recentes da mesma classe, o fezolinetante — já aprovado para sintomas vasomotores da menopausa — ainda não tem resultados publicados em doentes com cancro da mama; contudo, ensaios de fase 2/3 dedicados a mulheres sob tratamento endócrino adjuvante deverão fornecer, em breve, dados comparativos de eficácia e segurança nesta população. Em mulheres na menopausa fora do contexto oncológico, o fezolinetante demonstrou eficácia até seis meses com boa tolerabilidade. Assim, até à divulgação dos resultados em oncologia, o OASIS-4 permanece como principal referência de elevada qualidade para a decisão clínica neste cenário.

Intervenções não farmacológicas continuam a ter relevância como adjuvantes, embora a heterogeneidade dos estudos impeça comparações diretas. Bloqueio do gânglio estrelado, hipnose e terapia cognitivo-comportamental mostram sinais de benefício na frequência de fogachos, nos distúrbios do sono e no sofrimento associado, mas carecem de ensaios maiores, padronizados e específicos para doentes oncológicas sob tamoxifeno ou inibidores da aromatase. Na prática clínica, estas abordagens podem ser úteis para mulheres que não toleram determinados fármacos ou preferem alternativas não farmacológicas, mas, dada a magnitude do efeito e a robustez metodológica, a prioridade tende a recair sobre tratamentos com aplicabilidade imediata e sustentados por evidência sólida — como o elinzanetante no OASIS-4.

Em síntese

O OASIS-4 eleva o patamar terapêutico no manejo dos sintomas vasomotores induzidos pela endocrinoterapia no cancro da mama HR+, oferecendo benefício clinicamente relevante, melhoria dos desfechos e um perfil de segurança adaptado a necessidades de longo prazo. Assim, o elinzanetante afirma-se como uma opção promissora para colmatar uma lacuna terapêutica antiga, com potencial de aumentar a adesão ao tratamento endócrino — aspeto crucial em saúde oncológica e saúde pública.

Além disso, a futura publicação dos resultados dos ensaios com fezolinetante em oncologia permitirá avaliar a consistência desta classe terapêutica. Até lá, a comparação com agentes tradicionais sugere vantagem em magnitude e tolerabilidade para os antagonistas da neurocinina de última geração, com potencial impacto positivo na adesão à endocrinoterapia e, indiretamente, nos desfechos oncológicos.

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6513284

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