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Investigadores da Edith Cowan University, na Austrália, demonstraram que uma única sessão de treino de resistência (RT) ou de treino intervalado de alta intensidade (HIIT) pode aumentar marcadores anticancerígenos e inibir o crescimento de células tumorais em sobreviventes de cancro da mama.
Os resultados, publicados na revista Breast Cancer Research and Treatment, reforçam o papel do exercício como intervenção com efeito biológico direto.
O cancro da mama é o mais prevalente entre as mulheres e, após o tratamento, existe risco de recorrência. Embora as diretrizes internacionais já recomendem a prática de atividade física, faltavam dados sobre os seus efeitos imediatos no tumor.
Os autores partiram de uma hipótese simples: poderia uma única sessão de exercício modificar o ambiente biológico e produzir efeitos mensuráveis contra o cancro?
Para responder, a equipa liderada pelo Dr. Francesco Bettariga recrutou 32 mulheres que tinham concluído o tratamento primário para cancro da mama em estádios I a III, pelo menos quatro meses antes. As participantes foram distribuídas aleatoriamente para realizar uma sessão de cerca de 45 minutos de treino de resistência, com exercícios clássicos de musculação, ou de HIIT, em equipamentos aeróbicos.
Foram colhidas amostras de sangue antes do exercício, imediatamente após e 30 minutos depois. Os investigadores mediram as concentrações de mioquinas conhecidas pela sua atividade anticancerígena — interleucina-6 (IL-6), decorina, proteína secretada ácida e rica em cisteína (SPARC) e oncostatina M (OSM) — e expuseram células de cancro da mama triplo-negativo (MDA-MB-231) ao soro obtido das participantes.
Os resultados foram claros: a decorina, a IL-6 e a SPARC aumentaram de forma significativa logo após o exercício em ambos os grupos. A IL-6 manteve-se elevada até meia hora depois, enquanto a OSM aumentou apenas no grupo de treino de resistência. Entre as modalidades, o HIIT gerou um pico mais pronunciado de IL-6.
Longe de indicar inflamação prejudicial, estas alterações refletem a ativação transitória de um sistema de defesa capaz de modular a biologia tumoral. Segundo os autores, a libertação de mioquinas pelo músculo em contração pode influenciar vias de apoptose, proliferação e dormência celular, tornando o ambiente menos favorável ao crescimento tumoral.
O destaque do estudo foi que o soro das participantes reduziu até 29% o crescimento das células MDA-MB-231 — efeito observado imediatamente e 30 minutos após o exercício, com o HIIT a mostrar uma supressão ligeiramente maior.
Isto demonstra que uma única sessão de exercício pode alterar o microambiente sistémico e inibir diretamente células tumorais em sobreviventes de cancro da mama.
Aplicações clínicas
Embora não se trate de um ensaio clínico de desfechos, a investigação fornece informações relevantes. “A prática de exercício físico pode ser considerada uma forma de terapia sistémica que, além de melhorar a qualidade de vida e a força muscular, tem potentes efeitos anticancerígenos”, referem os autores.
A distinção entre modalidades também merece atenção: enquanto o treino de resistência e o HIIT induziram respostas semelhantes na maioria das mioquinas, o HIIT promoveu uma maior libertação de IL-6 e um efeito mais intenso na supressão tumoral imediata. Isto sugere que sessões com maior exigência metabólica podem potenciar a resposta biológica.
Ainda assim, os especialistas sublinham que tanto a musculação como o treino intervalado oferecem benefícios relevantes, e a escolha deve ter em conta as condições clínicas, preferências e segurança de cada paciente.
Passado e futuro
Há mais de uma década que as investigações demonstram que os músculos em contração libertam sinais capazes de inibir o cancro. Em pacientes com cancro da mama, uma única sessão de exercício aumentou as catecolaminas e a IL-6, reduzindo a viabilidade tumoral em células MCF-7 e MDA-MB-231 em cerca de 9%.
Modelos pré-clínicos confirmam este efeito: picos de catecolaminas ativam a via Hippo e reduzem o crescimento tumoral; em ratinhos, os tumores cresceram entre 36% e 66% menos com exercício. Efeitos semelhantes foram observados em cancros do cólon e da próstata, indicando respostas transitórias, mas potencialmente cumulativas.
Estudos moleculares destacam o papel das mioquinas, como a SPARC, na regulação da apoptose e da proliferação celular. Uma meta-análise de 2020 reforça que o soro pós-exercício reduz de forma consistente o crescimento de células cancerígenas in vitro, sugerindo que sessões repetidas podem ter um efeito clínico acumulativo relevante.
Estes resultados levantam a hipótese de que os efeitos imediatos do exercício, quando repetidos regularmente, possam reduzir a recorrência do cancro. Ensaios de maior duração e modelos mais complexos serão essenciais para confirmar se a supressão observada em laboratório se traduz em benefício clínico.
O estudo reforça que a prática de atividade física, além de melhorar a qualidade de vida, pode exercer efeitos imediatos em mulheres com cancro da mama.
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